sábado, 27 de fevereiro de 2010

Um poeta não existe .vegeta !

reconheço que fingir é brincar com a verdade.
o real imaginário a fuga audaz do quotidiano.
perder-se no virtual em busca da realidade.
é um ser sem existir rodopiando antes de cair
mas se fingir é brincar?
brincar será fingir?
qual é a linha que separa o real do virtual?
o ego do poeta é o real ou o fingimento ?
será que fingir o virtual é tocar o real ?
pode ser-se poeta e desmascarar-se ?
no seu ego fulminante que cega ao ponto de não se poder rever.
e com facada certeira acerta o seu próprio peito ferindo todos a sua volta .
cria sem fadiga emoções, suposições, cobardias ,fragilidades .
exorta nos leitores a viagem egocêntrica o rancor descaracterizado .
sobe ao pedestal por ele imaginado .
e cai .
sim cai !
e depois de cair sente que a realidade e mera inexistência.
um poeta não existe ,
vegeta !


de mim

ela veio triste rua a cima
e eu no canto da sala calado
a espera da mudança de clima
que lava o sangue derramado

ela veio triste e sem aviso
só ,matreira e acutilante
de tez franzida a passo preciso
rompendo o infinito distante

e eu no canto da sala calado
esperando sóbrio o odor letal
gritei a medo insonoro o medo

com formas de animal multicolor
paleta de artista sonâmbulo
pianista poeta pintor ,cardeal.



Detesto pensar que sou poeta !

um poeta engana-se a si mesmo
procura nas palavras o que não tem de facto
e um mero cínico capaz de inverter amor em ódio , paixão em solidão!
e um canalha !
e esmera-se a vaidades fictícias .
alimenta o seu próprio ego e o de quem se revê
nas rimas que excreta .
detesto pensar que sou poeta !

quero-te ainda mais

levo-te para bem longe
e la longe me desespero
de não te querer deixar .
abandono-te , amaldiçoo-te,
escorraço-te! levo-te para bem longe
e la longe já sinto que a tua presença me aflige . que o ar me sufoca ,que o sol me queima ,
que o pó me engole !
levo-te para bem longe
e la longe onde o sol se confunde com outros sois tu és fria .
tu és incolor , insípida,
inodora ,insignificante !
mergulho na agua podre
de um lago profundo de cadáveres .
procurando-me ,evitando-me !
nado em agua seca de um mar
deserto de amor banal.
banho-me em laminas afiadas que rasgam
o sentimento frágil,amedrontado.
repito os rituais
dementes labirinticos que
desaguam em ti .
no recalcar das lágrimas de sangue
e pétalas de rosas brancas
tu sais feroz ,
capaz de atormentar de novo
quem um dia te abandonou.



os amantes da alvorada

os amantes da alvorada
são capazes de tudo
e esquecem a madrugada
num nascer do sol mudo

envolvem-se em caricias
por vezes brutais
na cama no quarto no chão
são sinceros e reais
como as bombas no Afeganistão

os amantes da alvorada
são destemidos e bravos
matam ódios de rajada
são cúmplices da natureza
trocam balas por cravos
são amantes da beleza

saem a rua já tarda
repletos de harmonia
são amantes da alvorada
cobertos de nostalgia

a real façanha pergunto eu
que perco o sentido do tempo
neste quarto escuro de breu
onde a luz nem sequer espreita
com medo do pensamento
da noção do amor sóbrio
aos amantes da alvorada
que se amem sem desperdício
que neste mundo de guerra
não amar e quase vicio.